Encontro do dia 21 de Novembro de 2024

Pontualidade, disciplina e a diferença de alumnus e ars

    Hoje começamos o encontro com uma conversa sobre pontualidade e assiduidade. A nossa obragem criativa necessita de um certo grau de disciplina e principalmente de uma auto-disciplina, pois se trata de uma proposta técnica que envolve uma proporção grande de auto-didatismo para ser efetiva. Há uma dificuldade grande em termos a noção coletiva de que o que estamos fazendo não se trata de uma aula qualquer, mas de uma atividade "sagrada" de criação. A sacralidade do espaço/tempo que dispomos para a auto-pesquisa*, para o desenvolvimento das nossas próprias faculdades e sensibilidades artísticas. O início desta auto-disciplina consiste na pontualidade, pois, como no exemplo de Torstov e Kótsia na consagrada obra de Stanislávski sobre o trabalho do ator, o atraso não é apenas um desrespeito com o tempo alheio, mas algo que dilacera a criatividade coletiva. No livro, por causa de 15 minutos de atraso o diretor cancela o ensaio todo, pois perdeu o tesão de criar. Aqui na nossa prática também ocorre o mesmo, vemos como o atraso e a entrada de outras energias despreparadas que não se aqueceram ou se prepararam para a prática se torna algo disruptivo para o treino. Talvez o contexto da disciplina, que é ofertada como uma matéria de optativa aberta a matrícula para todes traga uma ideia alienígena a esta prática: a lógica do aluno que faz uma matéria. Essa ideia tem que ser combatida, pois não se trata de ser um aluno, mas de ser um artista. A mim, não me interessa ensinar alunos (alumnus: aquele que tem que ser alimentado), pois não se trata de uma obragem de mão única onde todo o alimento e conhecimento vem da parte do professor, mas sim de uma prática artística (ars (latim) que tem origem em techne (grego). Diferentemente de alumnus a palavra techne tem se refere a relação mestre-discípulo para a transmissão de habilidades adquiridas. Essa era a relação que eu tinha com o meu Mestre Hugo Rodas, mas não se trata de uma relação unidirecional, pois a prática artística sempre vem em mão dupla e numa relação que se retroalimenta. Direção provoca a atuação que, por sua vez, provoca a direção por meio da sua ação. E assim o aprendizado se faz coletivamente numa relação em que, ainda que executem papéis diferentes o conhecimento é desenvolvido coletivamente.


*Auto-pesquisa: Auto-pesquisa foi um termo que surgiu em sala de aula para se referir a prática investigativa individual de cada participante. No nosso TEAC Huguianas, assim como era no trabalho com o Hugo, estar em constante auto-observação e numa atitude investigativa era um pré-requisito para participar das atividades. Com o Hugo uma atitude passiva perante a criação e pesquisa era rechaçada por vezes até brutalmente, pois os perigos da preguiça criativa podiam se tornar muito nocivos à prática.


Exercício da roda dionisíaca: 

    Utilizando a estrutura de roda da capoeira angola com uma banda musical responsável pela produção sonora sentada no sofá enquanto o resto forma um círculo sentado no chão realizamos uma série de experimentações cênicas no espírito de proporcionar uma atmosfera "sagrada"e "ritualística". A estética das cenas não precisava reproduzir a forma do sagrado, mas sim emanar em si a energia transcendental de se entrar no "transe" da atuação. A proposta era investigar a catarse proporcionada pela imersão completa na obragem cênica.


Registros:

Parte 1:


https://youtu.be/3T2GaZnbK8Q


Parte 2:


https://youtu.be/s91UQy0N8Ac


Parte 3:


https://youtu.be/Sy-ZH5sJyOI


Parte 4:


https://youtu.be/_GmnRPoLCek











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